Saturday, July 24, 2010

Controle de Pragas

Acordaram assustados, feito loucos queriam saber o que estava acontecendo. Lembraram que hoje saía o resultado de uma prova importante para eles. Finalmente saberiam se vão poder sair de casa. Era uma gritaria generalizada, porém alegre, e não caótica, como se imagina. As paredes mais sujas e cinzas do que nunca, agora pareciam limpas e brilhantes com a entrada de uma bela moça no quarto dos dois irmãos.
- Consegui, consegui! Passei na prova!
- Mas que prova, você também fez?
- Claro que fiz, se não, como teria passado?
- Então, isso significa que nós... Vamos continuar nesta pindaíba?
- Do que vocês estão falando? Pindaíba?
- Você não conseguiu passar no concurso público, não?
- Claro que não, ooou. Estou falando da minha carteira de motorista. Passeeeei!
- Há, era isso... Acho que vou... Soltar um pum quanto a isso.
- Credo! Eu me esforcei para conseguir este resultado.
- Vou voltar a dormir.
- Pode dormir então, vou contar para Deus e o mundo que eu consegui.

A moça foi embora.
- Eu acho que devíamos ser mais agradáveis com as pessoas, vamos acabar sem ninguém.
- É, mas agora, prefiro dormir.
- Talvez, acho que vou à cozinha.
Vestindo bermuda de pijamas curto de bolinhas amarelas em fundo verde, sem camisa, de barba por fazer fazer há mais de uma semana, bastante irregular, e olhos bem fundos, se levanta o mais velho dos dois irmãos. Desequilibra-se, cai. Tenta de novo, mas agora com sucesso. Ouve risadas de Fernando, seu irmão mais novo. Ignorando-o olha fixamente para a porta, cheia de marcas de cupim e inúmeras pinturas sem lixar. Sua cabeça começa a desviar para o chão, porém a coloca na posição ereta outra vez com o auxílio do dedo indicador de sua mão direita, franzindo a testa, como alguém que teve uma boa ideia. Respira fundo.
- Eu não consigo entender porque ainda moro aqui.

Chegando a cozinha, uma infestação de pequenos insetos paira sobre a mesa, como se fossem donos de todos os alimentos. Longos e finos, com muitas asinhas, de cor amarronzada e aspecto vérmico. Não se via mais a cor dos alimentos, e sim aquele marrom, marrom inseto voador atacador de cozinhas. Aquela cena assustou o jovem Paulo.
- Que isso!? Fernando, vem aqui! Grita Paulo ensandecido.
Aos tropeços, o mais jovem chega ao recinto, e, embasbacado por sua frescura, joga a cabeça pra frente e pra baixo, e depois a vira para os dois lados três vezes bem rápido, dando a entender que aquilo não cabe em sua cabeça.
- Meu Deus. Parece que estão vindo do teto.
E estavam, um grande furo no teto era a fonte dos problemas deles. E não parava de vir mais desses bichinhos detestáveis. Um som abafado e agudo começou a tornar-se ensurdecedor, parece que os insetos resolveram cantar em uníssono. O desespero toma os dois, porque agora os bichinhos também começaram a derrubar as coisas e quebrar as vidraças.

Volta a bela moça com um grupo de outras pessoas desconhecidas.
- Mas o que está acontecendo aqui?
Do meio da nova multidão, grita um homem.
- Saiam todos daí, eu conheço essa praga, e sei como lidar com ela.
De terno escuro e gravata discreta, o homem que fez o anúncio não parece ter sido ouvido pelos irmãos apavorados.
- Garota bonita, parece que você conhece os dois, pode pedir para que se acalmem?
A moça segura os dois pelo braço.
- Parem de correr feito loucos, o senhor de terno vai lhes ajudar. Disse com uma calma inacreditável.
- Senhores, eu até posso ajuda-los, mas quero algo em troca.
- Como assim, quer algo em troca? Retruca Fernando cheio de razão.
- É simples e claro. Venha até aqui para eu lhe contar em segredo.
Sem desconfiar, Fernando se aproxima e o senhor misterioso abaixa a cabeça como quem conta um segredo.
- Quero a amiga de vocês.
Afasta-se virando a cabeça com um olhar desconfiado, Fernando. Pensa melhor e repete o ato do senhor contando-o em segredo.
- Está bem, ajude a gente e depois, a gente ajuda você a conseguir o que quer.
Os dois se olham e balançam a cabeça sinalizando um acordo. Como que por mágica, de sua maleta prateada de aço, o homem tira uma espécie de lâmpada roxa. Depois que a acende, pouco a pouco, os insetos vão se dispersando e fugindo, até que, em poucos minutos a situação é totalmente controlada.
- Vai nos dizer o que fez? Pergunta a jovem moça encantada.
- Hum humpf, não sou daqueles que revela os truques da manga.
O teto e as paredes pareciam ter sido decorados de novo, por alguém de gosto peculiar, algum apaixonado por asas de insetos. Respirava-se asas de inseto naquele lugar.

Batendo a mão na cabeça como se tivesse querendo tirar a caspa, Fernando pergunta ao senhor de terno como poderia retribuir o grande favor, batendo ainda mais forte para tentar se livrar das asas em sua cabeça.
Faça sua amiga vir comigo, quero que ela peça um favor a um amigo muito especial. Com uma cara azeda, Paulo se aproxima fazendo um gesto, apontando para o próprio peito e rapidamente para as costas de sua amiga, de que poderia ele mesmo convencer a moça a fazer o tal pedido.
- Lu! Obrigado por tudo. Se não fosse você, a gente estaria muito ferrado agora.
- Só vim por conta do barulho.
- Peço desculpas por hoje de manhã.
- Hmpf.
- Por que a gente não faz um passeio para você estrear sua carteira nova?
- Sério?
- Claro! Mas o senhor de terno vem conosco. Ele disse que está há pouco tempo na cidade e não conhece ninguém.
- Por mim, tudo bem.
Muito influenciada pelo seu recém resultado, Luciana pega a chave do seu carro, tinha o carro há mais de um ano, dado pelo pai. Gira a chave duas vezes com o dedo e inclina todo o seu corpo magro porém atlético, é um corpo que dá gosto de ver para a maioria dos homens, em direção ao elevador.

Depois de descerem o elevador, o celular do velho homem toca. Ele hesita em atender, parecia nervoso. Começa a tocar de novo. Agora, realmente nervoso, ele o atende.
- O que é? Será que não posso ter um minuto de sossego? Diz o velho com uma mistura de medo e raiva.
Um grande helicóptero passa por cima de todos e uma corda amarela de aparência bastante confiável é lançada bem próxima ao senhor misterioso. Ele em um movimento ligeiro, segura a corda com as duas mãos e sobe para o helicóptero. Antes mesmo do homem chegar ao helicóptero o mesmo começa o voo.
- Por essa eu não esperava. Dizem todos juntos.


Nem o narrador, meta texto não é algo que me agrade, ainda bem que eu consegui terminar a história.