Cabeça Vazia. Pensando.
“Cabeça vazia, fica pensando muito, não pode. Criança tem que ficar na escola.”
Isto me entristece. Desde cedo, já somos impedidos de pensar? Qual o problema de pensar? Por alguns que pensam fazerem coisas ruins, então devemos impedir todos de pensar? E quais são os problemas que criamos por não pensarmos mais?
Aquele que não pensa, aceita. E a escola, então, é isso? Um lugar onde enfiamos nossas crianças para elas aceitarem as coisas? Afinal, criança não pode ficar na rua, pensando, fazendo o que der na telha, afinal, é só uma criança. As crianças perderam a rua, e depois de adultos, será que ganham as ruas de volta? Acredito que não, o homem contemporâneo perdeu a rua, perdeu o pensar, e por conseguinte, sua individualidade. E o que conseguiu com isso?
Segurança, o homem conseguiu segurança. Podemos viver em casa e ir trabalhar tranquilos, pois no caminho para o nosso trabalho sabemos que não há crianças desocupadas, pensando em se sabe o que lá, e na volta, também. Nossas crianças? Seguras, em casa ou na escola, aprendendo, também, sabe se lá o que. Afinal, se elas vão para escola para, não ficarem, “pensando muito”, pensar não é o que eles devem fazer por lá. É isso, então, que queremos. A despeito de qualquer coisa, se estivermos seguros, tudo está bem.
Afinal, o que é mais importante? Seguros nós consumimos, pagamos nossos impostos, trabalhamos, nos entorpecemos às noites e nos fins de semana. Sem a segurança, nada disso seria possível. Pois apesar de tudo, apesar de não pensarmos, apesar de trabalharmos muito, com um bom descanso na sexta-feira e no fim de semana, tudo valeu a pena.
E se as crianças forem permitidas ao ato de pensar? Vamos ter segurança? Vamos pagar nossos impostos? O que será que é tão perigoso no ato de pensar que nos é impregnado desde cedo que não devemos fazer isso? Será que ainda há volta, será que se eu começar a pensar agora eu vou conseguir descobrir o que há de tão nefasto no pensar? Ou será que já é tarde?